Projeto Mulheres e Meninas em Movimento para a Ciência realiza sua 2ª etapa com foco na relação entre saúde pública e qualidade da água
Por Ana Roberta Amorim, CMN

A segunda etapa do projeto Mulheres e Meninas em Movimento para a Ciência, uma parceria entre a Casa da Mulher do Nordeste e a Fiocruz Pernambuco, colocou em prática a teoria vista durante a 1ª etapa: as meninas e jovens tiveram a oportunidade de atuarem como cientistas analisando elementos da própria realidade.
Se, durante a visita ao Instituto Aggeu Magalhães, no campus da Universidade Federal de Pernambuco, as adolescentes puderam ter o primeiro contato com os departamentos e laboratórios, além de aparelhos comuns no dia a dia das pesquisadoras e cientistas, como microscópios, dessa vez, as meninas tiveram a oportunidade de fazer ciência a partir do que atingem diretamente a elas e à comunidade de Passarinho, onde vivem: o uso e consumo da água.
A atividade desta 2ª etapa aconteceu no Sítio das Flores, localizado no bairro da Guabiraba, Zona Norte do Recife, no último sábado, dia 7. Lá, cerca de 30 adolescentes e jovens entre 12 e 20 anos, tiveram três momentos principais. O primeiro foi uma conversa com as pesquisadoras da Fiocruz PE sobre o que significa fazer ciência e como ela se mostra no nosso dia a dia. A partir das respostas variadas, mas que giraram em torno da importância da ciência ser prática e acessível para as pessoas, e as meninas partiram para o segundo momento.

Aqui, as adolescentes, jovens e pesquisadoras analisaram amostras de água de uso doméstico trazidas pelas próprias participantes, que receberam também um encarte explicativo sobre as doenças relacionadas à água. Com a ajuda de um microscópio óptico, lâminas e lamínulas, elas foram estimuladas a investigarem se a água tinha a presença de fungos, protozoários e outros contaminantes. Logo depois, as meninas coletaram de um dos afluentes da Bacia do Beberibe, que atravessa o Sítio das Flores, para analisar as mesmas condições.
No terceiro momento, no encerramento da manhã, as meninas e pesquisadoras da Fiocruz Pernambuco fizeram uma roda de conversa sobre o que haviam visto até ali e puderam tirar outras dúvidas relativas à prática científica e como ela impacta na nossa saúde, seja no consumo de determinadas substâncias e alimentos, seja nas pesquisas responsáveis pela produção das vacinas, por exemplo. A troca permitiu às adolescentes e jovens entender sobre como a ciência tem um impacto direto na saúde pública, desde doenças que acometem milhares de pessoas por falta de saneamento básico, por exemplo, até as contaminações e infecções pelo uso inadequado de substâncias no corpo, principalmente relacionadas a doenças sexualmente transmissíveis.

“A parte que eu mais gostei foi a de olhar os insetos no microscópio. Eu gostaria de ter examinado mais os insetos”, diz Gabrielle Lourenço, de 15 anos, uma das jovens participantes do projeto. Ela destaca que um dos principais aprendizados que adquiriu durante a manhã de atividades foi o entendimento de que a ciência não pode se basear apenas em hipóteses teóricas, mas ser comprovada a partir de testes com situações reais – semelhante ao que elas vivenciaram no Sítio das Flores. “Acho que uma das coisas mais importantes que eu aprendi foi que existem formas fáceis de deixar a água mais saudável para todos na minha comunidade”, pontua.
Para a coordenadora do projeto e pesquisadora da Fiocruz-PE, Dra. Tatiany Patricia Romão, a inserção na prática científica de meninas e mulheres da periferia depende da promoção de políticas públicas que não somente estimulem a entrada como a permanência desse público.
“O principal desafio é a falta de apoio financeiro ou de políticas públicas que visem auxiliar a juventude periférica no planejamento de carreira e acesso ao ensino técnico e/ou superior por meio de cotas, bolsas de estudo e assistência estudantil”, destaca. “O projeto auxiliou no despertar do interesse científico em meninas adolescentes da periferia do Recife e na formação do pensamento crítico das estudantes para o ingresso na Universidade”, afirma.
A coordenadora de projetos da Casa da Mulher do Nordeste, Anabelly Brederodes, vai além e chama a atenção para a importância da presença de mulheres e meninas negras nos espaços da ciência para que a própria área se torne mais diversa e acessível para a sociedade. “Abrir portas para as meninas, como o projeto fez, foi o primeiro passo para despertar o interesse e o desejo nelas de ingressar no universo acadêmico e da pesquisa científica. Da mesma forma que a ciência impacta a vida de todas e todos nós, a presença de meninas como elas nesses ambientes, nas investigações e descobertas científicas também tem a ver com a sociedade como um todo, que é formada majoritariamente por pessoas negras”, evidencia.

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