CMN acompanha 1º encontro de planejamento em Rede no Território do Pajeú

Dez propostas aprovadas dentro do Edital 35º PPP-Ecos – Edital Caatinga, financiados pelo GEF e executado pelo ISPN, em parceria com o PNUD, foram apresentados durante evento ocorrido em Afogados da Ingazeira

Por Ana Roberta Amorim, CMN

Fortalecer a paisagem do Pajeú envolve mais do que promover atuações pontuais que busquem mitigar problemas recorrentes, como os efeitos das mudanças climáticas. É preciso atuar em rede, com a união das pessoas que nascem, vivem, plantam e se alimentam nesta região. É perceber e valorizar a potência, muitas vezes invisibilizada, que existe nas mulheres e jovens que constituem essa paisagem. 

Visando esse objetivo, o projeto Caatinga Viva: Transformando as relações de gênero na paisagem do Pajeú, executado pela Casa da Mulher do Nordeste, na condição de organização estratégica, com o apoio do Fundo PPP-ECOS, do ISPN, foi construído.

Nos dias 9 e 10 de outubro, o projeto reuniu as 10 propostas selecionadas no edital para uma apresentação das diretrizes e dos planejamentos para os próximos meses. Mulheres e homens de cidades por onde o Rio Pajeú atravessa estiveram presentes no 1º Encontro de Planejamento em Rede do Território do Pajeú, ocorrido na sede da Diaconia, em Afogados da Ingazeira.

Desenvolvimento sustentável; fortalecimento da produção agroecológica das mulheres;  incidência política para mulheres agricultoras; suporte de tecnologia para o enfrentamento às mudanças climáticas, em convivência com o semiárido; comercialização em rede; preservação do bioma caatinga fortalecimento de sistemas agroflorestais; experiências que visam a melhoria da segurança alimentar e nutricional; estratégias de promoção de geração de renda para mulheres quilombolas. Esses e tantos outros caminhos escolhidos pelas associações e organizações responsáveis pelas propostas para a região convergem para um único ponto: fortalecer o território e a imagem do Pajeú como uma região rica de vida, ancestralidade e cultura.

Com duração entre 18 e 24 meses, os projetos estão sendo assessorados pela Casa da Mulher do Nordeste, com apoio do ISPN, para que alcancem as metas traçadas e atinjam os números estimados de cerca de 50 comunidades e 425 famílias beneficiadas ao final do período. 

Em torno de R$800 mil foram investidos para a manutenção das 10 associações e organizações – como aquisição de equipamentos e estruturação dos escritórios – e para que consigam colocar em prática o planejamento.

“A parceria junto ao ISPN tem gerado muitos bons frutos. Fortalecendo e apoiando organizações de base comunitária e organizações da sociedade civil, corroborando com o protagonismo das mulheres, a agricultura familiar de base agroecológica, preservação da caatinga e a economia solidária, na perspectiva do desenvolvimento territorial e em rede”, destaca Sara Rufino, responsável pelo projeto a partir da Casa da Mulher do Nordeste.

As mulheres como foco dos projetos


Eu enquanto jovem produtora e de uma comunidade quilombola me senti realizada com esse encontro. Conhecer outros projetos que, de certa forma, tem uma semelhança com o da gente. Foi enriquecedor e vou poder levar isso para outras juventudes da minha comunidade e fazer com que eles se sintam motivados para quererem participar e ajudar no crescimento da nossa comunidade. Vitória Érica dos Santos Souza, comunidade quilombola Feijão e Posse

Entre as centenas de pessoas beneficiadas, as mulheres são o destaque. Calcula-se que pelo menos 340 agricultoras receberão tecnologias para aprimorar os seus cultivos e, principalmente, terão acesso à formação política e feminista. 

Essa escolha de gênero não é por acaso. Assim como a população mundial e brasileira, as mulheres são maioria também no Sertão do Pajeú. No entanto, o reconhecimento de si próprias e pela sociedade enquanto agentes produtoras e de extrema relevância para a continuidade da produção agroecológica da região é, muitas vezes, invisibilizado. Sem contar as violências sofridas, que vão desde o silenciamento e negação da presença em debates importantes para a comunidade, até agressões físicas, como a violência sexual. 

“Somos as primeiras a acordar e as últimas a ir dormir. Levantamos para fazer o café da manhã e só deitamos depois que a cozinha está arrumada”, destaca Célia Souza (UAST/UFRPE), coordenadora do projeto Lamparina, aplicativo criado para coletar dados sobre as violências sofridas pelas mulheres rurais, e apresentado durante o 1º Encontro de Planejamento em Rede do Território do Pajeú. “De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, se o trabalho doméstico fosse remunerado, no Brasil, ele corresponderia a 13% do PIB do país”, revela durante sua fala para apresentar a Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico, que visa lançar luz na sobrecarga das mulheres rurais, decorrente do acúmulo de tarefas domésticas e no campo. 

Nos projetos, isso é demonstrado a partir do dado de que oito das 10 das propostas aprovadas no projeto Caatinga Viva são lideradas por mulheres.*

Confira as associações e organizações responsáveis pelos projetos apresentados:

1º Apomel – Associação dos Apicultores e Meliponicultores Orgânicos do Alto Pajeú
2º Aasp – Associação Agroecológica do Sertão do Pajeú*
3º Asap – Associação Agroecológica do Pajeú*
4º Associação dos Moradores Quilombolas de Feijão e Posse*
5º Associação de Desenvolvimento Comunitário dos Produtores Rurais dos Sítios Canivete, Minadouro, Oitis e Taboado*
6º Associação Comunitária Rural de Fortuna*
7º Associação Comunitária das Mulheres do Bom Sucesso*
8º Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú*
9º Cecor – Centro de Educação Comunitária Rural*
10º Diaconia

Rede Pajeú de Agroecologia


Durante o encontro, percebi que as associações e as instituições têm muito em comum. Eu espero que a partir da assistência técnica o projeto seja facilitado para todas nós, que estamos em um projeto dessa dimensão pela primeira vez. Eu espero que, ao final dos 18 meses, a associação contemple mais mulheres com quintais produtivos e melhoria de vida. Maria Suely Carvalho, Associação Comunitária das Mulheres do Bom Sucesso

Entre um intervalo e outro, quando as mulheres e homens presentes no 1º Encontro de Planejamento em Rede do Território do Pajeú entoavam canções como Riacho do Navio, de Luiz Gonzaga, que ensina “Corre pro Pajeú/O rio Pajeú vai despejar/No São Francisco” e Sobradinho, do Trio Nordestino, que denuncia “O homem chega, já desfaz a natureza/Tira a gente, põe represa/Diz que tudo vai mudar”, o encontro marcou também o compartilhamento das atividades dos projetos e agenda do território, junto à Rede Pajeú de Agroecologia (RPA). 

Essa rede, como o próprio nome sugere, tem como objetivo reunir não somente os projetos aprovados, mas colaborar na articulação e apoio entre produtoras e produtores agroecológicos atuantes no Sertão do Pajeú. 

A partir da RPA, formada por Grupos de Trabalho de Comunicação, Gênero e Raça, e Comercialização, a ideia é favorecer a gestão territorial, incidência em políticas públicas, processos produtivos e de comercialização na região.

“Para nós, enquanto organização, foi muito emocionante vivenciar a ação da Rede Pajeú de Agroecologia, que também está na perspectiva do nosso projeto de fazer com que a rede se estruture melhor e possa construir as suas ações de identidade desse coletivo”, comenta Ita Porto, coordenadora da Diaconia no Sertão do Pajeú e anfitriã do 1º Encontro de Planejamento em Rede no Território do Pajeú durante os dois dias. “Nosso objetivo é que a Rede possa realizar atividades políticas dentro desse modelo de desenvolvimento que a gente acredita, que é baseado na agricultura familiar, na agroecologia, na economia solidária. Que traga, além de todas essas questões, a parte social por meio do empoderamento e protagonismo das mulheres para que gerem frutos de bem viver”, elucida. 

A CMN, parceira do ISPN, faz a execução do projeto estratégico apoiado pelo PPP-ECOS em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), no âmbito do Projeto Operacional do Small Grants Programme no Brasil, financiado pelo Fundo para o Meio Ambiente Mundial – GEF.


Foi muito bom conhecer os outros projetos e as outras associações, todo mundo reunindo, se agrupando e se ajudando. A gente está no projeto graças à Rede. No final dos 18 meses do nosso projeto, a minha expectativa é que a gente esteja com muitas árvores plantadas na Caatinga e as abelhas produzindo muito. Pedro Ivo Solto Leite, Apomel





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