Mães sertanejas ensinam a seus filhos a dividir tarefas domésticas

Novo slogan da Campanha Pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico

“A divisão do trabalho de casa não é só para as mulheres. Eu acho que temos que ensinar desde pequeno, principalmente para os meninos homens. Ensinar desde cedo a lavar uma roupa, varrer uma casa e a cuidar de todos. Para quando crescer, não ter que ficar pedindo para eles fazerem, mas para eles chegarem e fazer. Já ensinei ao meu de 2 anos, para guardar os brinquedos depois de brincar”, disse Klécia Maria Ferreira, 19 anos, da comunidade Sítio São Miguel, de São José do Egito depois de participar de uma oficina sobre a campanha Pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico, realizado pela Casa da Mulher do Nordeste.

Refletir sobre as práticas e papéis do que é ser homem e mulher na nossa sociedade foi um dos pontos discutidos durante o encontro com as mães que participam do projeto do sistema de vínculos solidários, em parceria com a ActionAid.  Os encontros aconteceram em plataforma virtual, com a presença de mães e agricultoras dos municípios de São José do Egito e Afogados da Ingazeira. As mulheres iniciaram a conversa identificando a sua rotina de trabalho, e perceberam que as histórias se repetem, mesmo sendo de comunidades e municípios diferentes. Dialogaram sobre a divisão justa do trabalho doméstico e de cuidado, e o quanto isso é central para a vida delas, principalmente nesse período de pandemia. Com o novo lema: Ficar em casa é uma questão de saúde, dividir tarefas e viver sem violência também, as mulheres retrataram a sobrecarga de trabalho e de cuidados, vivenciados no cotidiano, e que ficou ainda mais violento com o contexto de pandemia e as medidas de isolamento social, em razão da Covid-19. “Eu fiquei grávida e tive um filho em meio à pandemia, fiquei de quarentena em casa para tomar todos os cuidados. Se precisava resolver coisas na rua, sempre ia minha tia ou minha irmã resolver para mim, para manter esse distanciamento. Tivemos que ter mais cuidados ao sair, para não se aglomerar. Além disso tudo, eu tenho uma avó em casa. E todo mundo tinha que ter cuidado com ela” contou Klécia Maria Ferreira.

Já para Cristiane Gisele, 35 anos, da comunidade Sítio pintada, de Afogados da Ingazeira, a pandemia duplicou o trabalho de casa. “As crianças não estão estudando, o de 8 anos mesmo ficou em casa. E ai além de cuidar da casa, tive que ser professora também. Por isso ensinei a arrumar a cama, a ajeitar as galinhas de manhã, secar uma louça. Muitos ainda pensam que mulher é só para o fogão, mas aqui em casa é diferente. Eu converso com meu esposo, porque os direitos são iguais, tanto do homem quanto da mulher. Mesmo que ele trabalhe fora e a gente em casa, ele precisa ajudar também com as tarefas domésticas. E quando ele está em casa e volta de viagem, ele varre um quintal, cuida das crianças, para poder dar conta de tudo”, disse.

A Campanha tem o sentido de problematizar, questionar e visibilizar o trabalho doméstico e de cuidados como central, enfatiza Graciete Santos, presidenta da CMN e integrante da Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste. Ela destaca que nesse momento de Pandemia, em diferentes contextos e realidades, esse trabalho aumenta no cotidiano das mulheres, causando uma jornada extensa de serviços em casa. É nesse sentido que a Campanha tem um papel crucial porque ela também demarca a injusta divisão do trabalho como uma dimensão da violência. A Campanha é uma iniciativa da Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, em parceria com diversas organizações da sociedade civil e movimentos sociais de mulheres.

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