Mulheres perdem seus roçados e algumas ficam ilhadas na zona rural do Pajeú

Mulheres perdem seus roçados e algumas ficam ilhadas na zona rural do Pajeú

Desde que começou as fortes chuvas no Sertão do Pajeú, a Casa da Mulher do Nordeste tem intensificado seu trabalho no acompanhamento das mulheres agricultoras assessoradas que vivem na zona rural da região. Semana passada, famílias inteiras foram afetadas, principalmente nos municípios que a CMN tem atuação, como Afogados da Ingazeira, Tabira, Flores e Ingazeira. Com o estado crítico dos municípios, uma onda de solidariedade junto com a defesa civil têm se empenhado para que doações e ajuda de voluntários cheguem aos desabrigados/as, que ainda tem que enfrentar o isolamento social devido ao coronavírus.

Em nossos contatos, mulheres que são referência em agroecologia e lideranças em suas comunidades contam como está a situação das famílias, o que apresenta para nós um grande desafio – o de recomeço. Em Flores, Eleni Muniz e Franciele Rocha, do sítio Pereiros, conta que alguns trechos da comunidade, estão isolados. O temor maior é com o aumento do volume de água, se continuar a chover. Hoje estão receosas de fazer a travessia na ponte da comunidade. Em Tabira, Maria de Lourdes Rufino, do sítio Serrinha conta que a comunidade está praticamente, ilhada. “Os carros estão “atolando” (seja pequeno ou grande) no caminho. “Os rios não estão dando passagem. Semana passada, um rapaz ia perdendo 10 bezerros, que foram levados pela força das águas. Porém, com ajuda da população, conseguiram salvar os animais”, relatou.  Já Maria Vilciene, da mesma comunidade, relatou que os roçados ficaram todos alagados. “Onde plantamos feijão, “amarelou tudo”. E agora está tudo atolado. Se continuar chovendo, não iremos conseguir colher nada. Faz muito anos que tinha visto uma chuva desta e ainda mais, os rios cheios, atravessando estradas”, disse.

Para Sara Rufino, assessora técnica da CMN, as chuvas estão causando um impacto considerável na segurança alimentar das famílias. “Muitas perderam ou estão em risco de perder seus roçados (milho e feijão), além dos próprios quintais produtivos e hortaliças. Esperamos que ao passar este período de maior pluviosidade, a situação seja normalizada (melhoria das estradas) e que seja possível aproveitar as culturas que sobreviverem às chuvas, se não para consumo humano, para os animais”, contou.

Em Ingazeira, Rosineide de Oliveira, do Sítio Bom Sucesso, relata que as estradas estão um caos, e não consegue fazer a passagem. Lenice Gonçalves, também da mesma comunidade, disse que desde que as chuvas intensificaram, tem faltado energia elétrica e internet. Há muitos postes dentro d’água. “Estávamos com um lindo plantio de feijão. Mas a água alagou e perdemos tudo. Quando secar, quem sabe conseguimos, ao menos, tirar ração para os bichos?”, disse. Para Lígia Gonçalves o prejuízo é grande. “O pomar e hortaliças que eu tinha próximo ao riacho, foram levados e está alagado. O pimentão estragou, o pé de mamão caiu. A parte boa é que temos água para beber, porque as cisternas já estão cheias. Os produtos que conseguimos produzir estamos consumindo em casa, porque não temos como passar. Quando consegue vender alguma coisa, já vendemos com o preço mais baixo. Na minha geladeira, tinha 47 queijos, mas não tinha como passar na estrada”, relatou.

Em Afogados da Ingazeira, Tatiane Faustino faz observação diária sobre o nível das águas. Na nossa comunidade passa dois rios. Tivemos um prejuízo dos roçados, mas pelo menos a vida está preservada. Tem sido difícil esses dias, está bem ruim o acesso a cidade, mas ainda conseguimos passar. E tenho certeza que tudo isso vai passar”, disse.

Diante dos relatos das agricultoras, a CMN reforça a necessidade de fortalecer a política do Programa de Aquisição de Alimentos e de Assistência Técnica Rural, para apoiar a recuperação da produção das mulheres que estão à frente da linha da sobrevivência, em especial no momento de catástrofes.

DOAÇÃO – A CMN pede às autoridades que intensifiquem o trabalho com as comunidades rurais e mais uma vez o apoio de toda região para ajudar com doações de material de higiene, de shampoo, sabonete, creme dental, toalha de banho, escova de dente (higiene pessoal), papel higiênico, material de limpeza, roupas, peças íntimas (calcinha, cuecas) para adultos e crianças, verduras e legumes, produtos descartáveis, copo, colher, prato, guardanapo, colchões e roupas de cama, para todos os municípios citados acima.

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