Por Graciete Santos, feminista presidenta da CMN
Hoje acontece o primeiro jogo da seleção feminina de futebol e precisamos destacar que não foi nada fácil chegar até aqui. Uma trajetória marcada por preconceitos, resistência e muita luta das mulheres para terem o direito de ser reconhecidas como jogadoras profissionais.
Dentro ou fora do campo, essa é a história de nós mulheres na luta por direitos em várias dimensões social, econômica e política. Demoramos a ser consideradas cidadãs de direitos e foram muitas lutas travadas ao longo das décadas para ter direito a estudar, a trabalhar, a votar e ser votada, assim como o direito de escolher ser mãe ou não. No esporte, essa situação também nunca foi diferente.
No Brasil, em 1940, começam a aparecer jogos entre mulheres de maneira clandestina, o que gerou muitas manifestações da sociedade de preconceito, resultando na regulamentação do esporte no Brasil pelo Conselho Nacional de Desportes, em 1941, que proibiu as mulheres jogarem futebol. No decreto-lei (3199, art. 54), dizia as mulheres não deveriam praticar esportes que não fossem adequados à sua natureza. Apesar de não ser citado nominalmente, o futebol se enquadrava. Em 1965, no Governo Militar, o decreto-lei é novamente publicado de forma mais detalhado, incluindo a modalidade do futebol. Apenas em 1979 foi revogada a lei que proibia as mulheres de jogarem futebol.
Importante ressaltar que é na década 80 que o movimento feminista no Brasil ganha força, por meio do surgimento de várias organizações feministas e grupos de mulheres no contexto de redemocratização do país. Em Pernambuco, a CMN e o SOS Corpo foram fundados nessa época.. Mas isso não significou a conquista de direitos iguais entre os jogadores masculinos. As mulheres até hoje não recebem os mesmos salários, os mesmos apoios e patrocínios dos clubes nem a mesma visibilidade e reconhecimento da sociedade em geral. Existe uma desigualdade de gênero nessa categoria, assim como é forte o racismo.

Essa situação de desigualdades em relação aos homens está estruturada nos valores patriarcais fundamentados na superioridade dos homens sobre as mulheres em todas as instâncias da sociedade, naturalizando papéis sociais de acordo com o gênero e atribuindo poderes desiguais entre os espaços público e privado. As mulheres determinadas ao espaço privado da família e os homens, ao espaço público da política e do mercado.
O feminismo, como movimento social e pensamento crítico, vem historicamente transformando as desigualdades nas relações familiares, no mercado de trabalho, nas políticas públicas, nos comportamentos e na cultura , resultando em mudanças históricas não somente para as mulheres, mas para toda a sociedade.
Nesse sentido, não podemos deixar de destacar o quanto essa Copa do Mundo de Futebol Feminino é simbólica e representa a luta das mulheres por direitos e justiça de gênero. Chegar até aqui não foi fácil, muitas barreiras e dificuldades no âmbito pessoal, social e profissional precisaram ser superadas. Essa Seleção em especial abriu caminhos para novas gerações e novos tempos de melhores condições e equidade. Marta, reconhecida como a melhor do mundo, faz sua despedida do campo este ano, mas deixa um legado de possibilidades para todas as meninas que sonham em ser jogadoras.
Marta, Cristiane, Formiga, Tamires, as 23 convocadas e todas as mulheres que atuam profissionalmente nos clubes do país s, representam tantas outras mulheres em diversos cantos desse Brasil, que lutam cotidianamente por igualdade de direitos e contra os sistemas patriarcal, capitalista e racista.
Salve a Seleção Feminina de Futebol! Salve a luta das mulheres! Salve o feminismo!
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