Participantes do Meninas em Movimento recebem visita do Comitê de Patrocínios do Governo Federal

Texto: Aline Vieira Costa

Fotos: Aline Vieira Costa e Larissa Pontes / ActionAid Brasil

Com cerca de 30 integrantes do comitê, o encontro contou também com a participação de meninas, mães, lideranças comunitárias, bem como da ActionAid, realizadora do projeto, da Petrobras, que patrocina o projeto, e das organizações parceiras.

Representantes do Comitê de Patrocínios do Governo Federal tiveram a oportunidade de conhecer de perto o trabalho do projeto Meninas em Movimento, que atua no enfrentamento ao assédio e ao abuso sexual contra crianças e adolescentes em sete territórios pernambucanos. Com cerca de 30 integrantes do comitê, o encontro contou também com a participação de meninas, mães, lideranças comunitárias, bem como da ActionAid, realizadora do projeto, da Petrobras, que patrocina o projeto, e das organizações parceiras, que são a Casa da Mulher do Nordeste, o Centro das Mulheres do Cabo e a Etapas.

O comitê é um órgão consultivo, instituído em decreto, que assessora a Secretaria Especial de Comunicação Social da Secretaria de Governo da Presidência da República e tem como uma das competências incentivar a integração de projetos de patrocínio a programas e políticas públicas. É composto por representantes que atuam como patrocinadores nos ministérios, empresas públicas e de sociedade mista federal, autarquias, fundações e agências reguladoras, que se reúnem quinzenalmente por videoconferência e quatro vezes ao ano de forma presencial, com a oportunidade de visitar projetos espalhados pelo país.

“É um momento em que eles podem perceber a importância do que é feito, ver concretamente algo a que, às vezes, só têm acesso por meio de relatório, dar vida àqueles números, àquelas fotos. É muito emocionante. Eu mesma me renovo sempre que participo de alguma ação do Meninas em Movimento”, comenta a diretora de Políticas e Programas da ActionAid, Ana Paula Brandão. “Quando você vem, você vê a potência que é. E isso dá um gás que mostra que estamos fazendo certo”, completa ela, lembrando que o projeto é resultado do trabalho consistente feito há décadas pelas organizações nesses territórios.

Troca de experiências

O diretor do Departamento de Mídia e Patrocínio da Secretaria de Comunicação Social do Ministério das Comunicações, José Augusto Carvalho de Oliveira, explica que a visita é uma forma de as organizações prestarem conta de como estão empregando os recursos públicos. Além disso, é uma chance para os assessores conhecerem os projetos que conduziram de dentro dos órgãos em que trabalham e de descobrirem iniciativas para copatrocinar. 

“Fora a troca de experiências entre os membros do comitê, que tiram dúvidas, conversam uns com os outros, têm ideias… Vários projetos nascem dessas conversas que acontecem pessoalmente”, conta Oliveira.

Representante da Petrobras no Comitê de Patrocínios, Fabiana Nazário Raphael destaca que essas visitas são verdadeiras reuniões itinerantes e dão tangibilidade às propostas apresentadas no âmbito do comitê.

“Nesse sentido, a visita ao Meninas em Movimento foi bastante proveitosa. A temática do projeto é de extrema importância para o protagonismo e empoderamento de meninas e mulheres destes territórios. Além disso, a visita foi muito importante para a Petrobras que, como apoiadora do projeto, pode ratificar seu objetivo de promover transformações sociais positivas na sociedade. Ficamos muito contentes com a acolhida do Centro das Mulheres do Cabo e das meninas dos sete territórios. A fala das meninas mostra que o projeto está conseguindo atingir o objetivo de empoderá-las, assim como as famílias”, enfatiza Fabiana, que atua como consultora de projetos sociais na Petrobras.

União e solidariedade

As meninas mostraram aos representantes do comitê que já estão juntas nessa luta, materializando a união delas em uma colcha com mais de 150 retalhos produzida e costurada por elas mesmas.

“Foi bem complicado porque não sei costurar, mas aprendi na hora e foi uma experiência incrível. A colcha representa todas as meninas. Significa que todo mundo é diferente, não importa cor de pele, cabelo, raça, a gente luta pelas mesmas causas, direitos e igualdade”, conta Sandy Helena Carvalho, 15 anos, moradora de Gaibu, no Cabo de Santo Agostinho.

“A gente quer reafirmar a importância desse encontro e dizer que cada uma de nós está desafiada a somar nessa colcha de retalhos de onde a gente estiver com essa missão de lutar por direitos e pela igualdade para todos, todas e todes”, completa Nivete.

Outro exemplo de como a união de forças foi compartilhado por uma das lideranças comunitárias do Engenho Massangana, localidade na zona rural do Cabo de Santo Agostinho. Renata Maria da Silva, de 42 anos, é mãe solo de três filhas e sentiu na pele a responsabilidade de mostrar a elas seus direitos, mesmo diante do que é aprendido culturalmente, principalmente fora dos grandes centros urbanos.

“Infelizmente, uma mulher leva um tapa e acha que é normal porque foi criada dessa maneira. Essas mulheres de Engenho Massangana cresceram vendo suas mães apanharem e dizerem ‘cala a boca que é assim mesmo, você tem que continuar casada, respeitar e ficar quieta’”, conta. 

Para Renata, o projeto Meninas em Movimento, no entanto, está mostrando às mulheres dessas comunidades que elas têm força, conhecimento e sabem onde podem buscar o apoio das pessoas certas. “Outra cultura de Engenho é que todo mundo é parente, então o aprendizado é espalhado, divulgado, explicado, incentivado, porque o incentivo é necessário. Esse projeto, para minha vida, para a vida das minhas filhas e das mulheres de Massangana, é muito necessário”, relata.

Para Jullya Rayanne, de 13 anos, moradora de Passarinho, no Recife, o Meninas em Movimento tem sido o melhor acontecimento do ano. Ela perdeu uma tia vítima de feminicídio pouco antes de entrar no projeto.

“Precisei perdê-la para poder estar aqui. Sempre fui muito forte, sou feminista e, quando veio todo esse assunto do projeto, eu me identifiquei e entrei. Elas me ajudaram muito a falar sobre sentimentos com as pessoas, a me expressar melhor, pois eu era muito calada, guardava para mim tudo o que acontecia comigo”, conta Jullya, emocionada. “Quero ser advogada para ajudar as crianças que sofrem com isso e não conseguem falar e tentar incriminar as pessoas que fazem isso com elas”, completa.

Pioneira no uso da Lei Maria da Penha

As três organizações parceiras na realização do projeto Meninas em Movimento apresentaram suas diversas formas de atuação no auxílio a mulheres. Uma delas, o Centro das Mulheres do Cabo, compartilhou que foi responsável pelo primeiro caso de atendimento de aplicação da Lei Maria da Penha no Brasil.

“Isso, para nós, é um marco bastante significativo e mostra o quanto é importante a luta das mulheres por justiça, por igualdade e por enfrentamento a essa cultura tão perversa”, defende a coordenadora do CMC, Nivete Azevedo, que coordena as atividades do projeto no Cabo de Santo Agostinho e em Ipojuca.

Nivete pontua ainda a importância do patrocínio ao projeto e da soma de forças de diferentes setores.

“Não se enfrenta uma desigualdade só pelas andanças de mulheres, ou só pelo Ministério da Mulher, pela Secretaria Municipal da Mulher, ou pelos organismos das mulheres. Só se enfrenta com uma política de proteção, prevenção, reconhecimento, qualificação, atendimento de forma integral às mulheres, e isso envolve de fato todos os setores”, ressalta ela.

O sucesso da colaboração entre público e privado também é defendida por Oliveira.

“A gente acredita nisso, o governo não vai fazer tudo sozinho. Todo mundo tem a sua parte e a nossa parte é tentar beneficiar mais a sociedade onde a política pública não chega por meio do patrocínio a projetos como esse. Nós queremos que a sociedade veja que estamos juntos nesse combate”, comenta Oliveira.

Saiba mais sobre o projeto Meninas em Movimento:

 www.actionaid.org.br/meninasemmovimento

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